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3.14.2007

A legalização da maconha

Decisões que nos afetam são tomadas constantemente por pessoas sem conhecimento nem informação adequadas sobre aquele tema específico, começando pelo Presidente da República, ministros, senadores, deputados, governadores etc. Dependendo da área, ocupantes de cargos decisórios podem nem saber a quem consultar. Essa deficiência é, em parcela que creio razoável, conseqüência de um sistema universitário que permite que entremos e terminemos uma carreira sem ter noção do que passa em outras áreas. O ensino das ciências, no Brasil, tem sido particularmente deficiente e nosso cargos públicos estão preenchidos, em quase a totalidade, por pessoas que pouco ou nada sabem sobre o que a(s) ciências(s) tem a contribuir sobre aquele tema. O que é pior: muitos acham que sabem.

Discutimos, mais uma vez, a descriminalização e a legalização de drogas. Creio que os prováveis benefícios são conhecidos, dada a associação entre o tráfico de drogas e a violência.
Se forem apenas esses os termos da equação, a escolha é óbvia: descriminalização já!

Mas a equação não está completa: há um preço a pagar.

Eu subscrevo PsychiatryMatters MD e outras publicações que me informam sobre as pesquisas de fronteira em psiquiatria. No número de hoje, quarta-feira, 14 de março, há um interessante artigo sobre defeitos no cérebro e o uso de maconha entre esquizofrenicos.

O que a pesquisa sugere é a existência de defeitos no cérebro (no anterior cingulate) entre pessoas que sofrem seu primeiro episódio esquizofrênico e o uso de maconha. Os autores concluem que "os resultados são compatíveis com a hipótese de que alterações estruturais na massa cinzenta em pacientes com esquizofrenia que usam maconha podem estar associadas com a incapacidade de tomar decisões sensatas e mediam a compulsão ao uso de drogas". Foram pesquisados 51 pacientes com o seu primeiro episódio de esquizofrenia e 56 controles, que não eram doentes mentais, usando ressonância magnética. Os usuários de maconha tinham menos massa cinzenta no anterior cingulate (parte do sistema límbico; os psiquiatras acreditam que participa de integração entre a cognição e as emoções) do que os demais pacientes, que não usavam maconha, e os controles. Os pacientes que não usavam maconha e os controles tinham volumes parecidos nas diversas áreas estudadas.

Decisões arriscadas são tomadas por pessoas que usam drogas, de acordo com um grande número de pesquisas. Os que usam maconha tendem a tomar decisões com gratificações imediatas a despeito de perdas pesadas a médio e longo prazo.

Há, claro, uma possibilidade de endogenia nas pesquisas entre esquizofrênicos: o uso de maconha reduz a massa cinzenta ou a deficiência na massa cinzenta predispõe ao uso de maconha?

Evidentemente, é uma consideração importante que merece ser estudada e entrar na equação. Porém, não aparece na equação simples (às vezes simplória) dos que apresentam a descriminalização (ou até legalização) desta ou daquela droga como uma decisão política que só tem benefícios. Temos que avaliar os custos e os benefícios.

O estudo original foi publicado no

Br J Psychiatry
2007; 190: 230-236



Pesquisa Já!

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