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3.15.2007

A legalização da maconha II

Gláucio,

Eu concordo que a equação não está completa. Você se esqueceu de
considerar um conjunto enorme de questões, como o respeito às
liberdades individuais, a discriminação racial agravada pela
repressão, os danos ecológicos provocados pela "guerra às drogas" em
países como a Colômbia. Sem contar que o uso de substâncias
psicoativas nem sempre é problemático, como você deve saber.

Portanto, há uma falha no seu argumento. Caso haja comprovação
experimental de outros cientistas (como você também já deve saber, é
assim que a Ciência funciona
), esse estudo revela, no máximo, que
existe um grupo de pessoas para as quais o uso de maconha não é
recomendado. Da mesma forma existem pessoas para as quais não se
recomenda o ácido acetisalicílico (presente na aspirina). Seria esse
um motivo para se proibir tal substância?

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Recebi a carta acima de um leitor do blog que ilustra como as questões relacionadas com a Segurança Pública se transformaram em questões políticas com forte dose ideológica e com traços de combate pessoal. As pessoas pegam fogo e partem para agressões, nem sempre sutis como a do missivista, cuja identidade protegi através do anonimato. Precisamos, de alguma maneira, retirar essas questões do âmbito ideológico e, particularmente, do pessoal.

Como fazer para superar isso? Como transformar as teses que são defendidas “contra viento y marea” por hipóteses que tentamos testar?

Caso os leitores necessitem de informação a respeito da minha formação e da produção científica é só entrar na Plataforma Lattes.

Uso o ensejo para sublinhar problemas com o argumento:

Apresentar um elenco de razões sem prioridades é fácil; estabelecer o peso relativo de cada variável é difícil;
Os dados contrários são importantes. Quantas vidas foram salvas pelas políticas implementadas na Colômbia, tanto por prefeitos excepcionais como Guerrero, Mockus, Peñaloza, Garzón, quanto pelo governo federal de Uribe?

A literatura empírica sobre os danos causados pelo uso de drogas é gigantesca, imensa. Quem trabalha em instituição universitária, sabe ler em Inglês e não é refratário a números e estatísticas, pode e deve consultar o Portal CAPES de Periódicos, colocado à nossa disposição, onde encontrará parte grande dessa literatura. A busca pode ser efetuada usando o próprio Portal, Google Scholar e outros instrumentos de pesquisa através da internet.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro bloguista,

Nao encontrei emocoes e interesses pessoais no comentario contida da carta enderecada a vossa pessoa. Somente mais variaveis obvias na equacao da substancia Maconha, no Brasil.

Tambem nao eh necessario ser cientista nem ter artigos publicados para saber que a maconha eh uma droga e faz mal a sauda. O que nao eh tao obvio, e porisso a discussao, eh que a proibicao da maconha eh ainda mais danosa a sociedade como um todo, na equacao como um todo.

Nao sao as emocoes, mas o moralismo que esquarteja a razao e o argumento.

grande abraco

Joao

Anônimo disse...

Os defensores da legalização do uso da maconha invocam o filósofo inglês John Stuart Mill, citando sua célebre frase "sobre si mesmo, seu próprio corpo e mente, o indivíduo é soberano". Como o senhor analisa esse ponto de vista?

Fergusson – Essa é uma visão interessante, mas omite que o indivíduo não paga a conta das conseqüências adversas de suas opções pessoais. Essa não é uma questão meramente existencial, tem conseqüências econômicas e sociais. Quem paga a conta é o governo – ou seja, é toda a sociedade –, que tem de fazer frente ao aumento da demanda na área de saúde, por exemplo. Submeter o corpo do indivíduo a sua exclusiva responsabilidade somente faz sentido se ele também se responsabilizar pelos custos totais de suas escolhas. Mas o que ocorre é que os indivíduos exigem que a sociedade banque o custo de suas experiências pessoais e não admitem que ela tenha o direito de regular sua conduta. É uma visão muito unilateral.


EU ACRESCENTARIA: A FAMÍLIA PAGA PREÇO ALTO, EMOCIONAL E FINANCEIRO, ANTES QUE O GOVERNO, O EMPREGADOR, ETC, PAGUEM

Mariana disse...

Coloquei trecho de entrevista na postagem anterior para reflexão quanto aos argumentos de "liberdade de fazer o que se quer com o próprio corpo" a qualquer custo, não importando mais ningúem (quanto individualismo!!!).
Sobre a equação e a conclusão do que é mais danoso, discordo de João. A partir de que dados ele afirma que a proibição da maconha é ainda mais danosa à sociedade? Acaso se ela for liberada os traficantes passarão a exercer ofícios não danosos? Ou serão que intensificarão ainda mais o tráfico, vendendo maconha mais barata no mercado negro e altamente rentável? Ou será que descerão ao asfalto para cometer os mais variados crimes? Ou será que recrudescerão ainda mais o assédio aos usuários para que usem outros tipos de drogas, ainda ilegais?
Além disso, penso que os que defendem o uso da maconha medicinal deveriam provar, detectar e isolar os princípio(s) ativo(s) terapêutico(s) da planta para então criarem-se medicamentos efetivos, a exemplo da morfina e codeína vindas do ópio (igualmente fumado e planta natural como a maconha) e da coca (tb inocente plantinha), com sua xilocaína. O que não dá é para acreditar que o cigarro, o "baseado" seja medicinal, pois causa mais danos do que benefícios à saúde e para isso não precisamos de pesquisas científicas, basta conhecer um usuário qualquer.
Aos que alegam direito à maconha recreacional, solicitaria que revessem seu conceito de recreio e prazer, uma vez que não há esses sentimentos reais em nenhuma droga, tudo é ilusório e impeditivo de que a própria pessoa alcance verdadeiros estados de relaxamento e euforia. Além de haver efeito rebote, dependência etc. Sequelas tb. Tal qual a alopatia, que ataca o sintoma e não a causa, a pessoa não está a recrear-se ou a relaxar verdadeira e profundamente, está apenas a maquiar seu real sentimento e a viver sob constante torpor.